segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

UMBERTO ECO COM ACARAJÉ PARA LEMBRAR DINHA E ZÉLIA

UMBERTO ECO COM ACARAJÉ PARA LEMBRAR DINHA E ZÉLIA

Imperdível! Quem gosta da boa (nesse caso magnífica) leitura e saboreia a palavra, como quem degusta um Barolo, o “vinho dos Reis e o Rei dos vinhos”, não pode deixar de ler “A misteriosa chama da rainha Loana” (2004), de Umberto Eco. É a história da memória – substrato também desse artigo – perdida e (re)encontrada nos escaninhos de um tempo esplendidamente revisitado pelo autor.

Nos anos 90, Yambo, – personagem central do livro – depois de escapar de um acidente vascular cerebral (AVC) descobre que perdeu a memória episódica (aquela que guarda eventos datados, relacionados ao tempo) esquecendo-se, portanto, de si mesmo, de sua família, amigos, cores e sabores que o cercavam. No entanto, preservou uma prodigiosa memória semântica (aquela que abrange o significado das palavras), com a qual é capaz de citar poemas inteiros ou trechos de grandes obras e autores de todos os tempos. Desta forma, Eco, vai contando sua história e, simultaneamente, ensinando-nos a apreciar uma boa leitura sem o medo de enfrentarmos um “clássico”. Aprendemos, portanto, com Yambo-Eco muita História, Literatura e Vida!

Do lado de cá, dentro do nosso universo baiano, inquieta-me saber se seremos capazes de preservar na memória os quitutes (acarajé, abará, bolinho de estudante, cocada, etc.) que Dinha fazia com tanto primor. É, estou falando da nossa Dinha, ali do Rio Vermelho, na Bahia, como chamávamos Salvador, que representando as baianas de acarajé, viajou desde a Argentina até a Itália de Eco. Quem foi à Bahia e não provou dos quitutes feitos por ela, é como ter ido a Roma e não ter visto o papa!

Quanto à Zélia Gattai, a nossa Zélia – na Bahia tudo tem um jeito fagueiro de camaradagem bacana –, filha de imigrantes italianos(!), dama-guerreira das letras poéticas e das poéticas histórias que escreveu (Anarquistas, graças a Deus, entre outros), pergunto: esqueceremos que Anarquistas... vendeu mais de 250 mil exemplares no Brasil e foi traduzida para o francês, italiano, espanhol, alemão e russo? E que muito mais relevante que a vendagem e as traduções, Zélia soube como ninguém nos embalar no colo para contar experiências dramáticas? Esqueceremos que Zélia, baiana de coração, soteropolitana por honraria concedida, foi também Comendadora das Artes e das Letras do Brasil?

Dessas reflexões e também da busca pela preservação da memória, que nos une e nos remete ao encontro da Arte e do Belo, lembremos de Friedrich Schiller e Platão, respectivamente: “É somente através da Beleza que o homem faz seu caminho para a Liberdade. “Há sempre um Belo a nosso alcance”. (Obrigado, mestre Pereira!). Contudo, uma coisa é certa: se Yambo-Eco tivesse provado o acarajé da Dinha e lido Zélia, certamente sua memória se recomporia mais gostosamente!

Cláudio Zumaeta - Historiador graduado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, Ilhéus – BA) Administrador de Empresas graduado pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL, Salvador – BA) e Pós-Graduado em Administração Pública pela Faculdade do Sul (FACSUL, Itabuna – BA). Autor de Cacauicultura: A Ceplac e a vassoura-de-bruxa em Camacan; publicado pela Editus – UESC – BA.

3 comentários:

  1. Eu não gosto muito do Eco... mas não desmereço o trabalho dele dentro da linguagem, que é muito bem estruturado. Aposto que se ele tivesse comido o acarajé ia ser bem melhor!

    Pode colocar meu banner aí sim... já estou te linkando no memórias!

    ResponderExcluir
  2. Caraca' foi pressionado então ! KAUSHAUSKAHSU' muito legal o blog , bom proveito ae ! http://pokemontoonami.blogspot.com/ da uma passada aki'

    ResponderExcluir